segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Entrevista/Ivanor Florêncio

“A secretaria será mais voltada para nosso umbigo”

Rodrigo Alves16 de março de 2014 (domingo)
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 Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo secretário municipal de Cultura , Ivanor Florêncio, ao chegar para tomar posse no final de janeiro, foi tirar todas as divisórias que deixavam a sede da secretaria, no Setor Sul, labiríntica. Por muitos anos, ninguém sabia ao certo quem circulava pelas rotas internas da Secult Goiânia, muito menos se ocupante da pasta estava no prédio trabalhando. Hoje, assim que deixa as escadas que dão acesso ao segundo pavimento do prédio, o visitante consegue visualizar a porta do gabinete principal.Quando a reportagem do POPULAR chegou ao prédio nesta semana, para a entrevista a seguir, a porta estava aberta e convidativa. Não fossem as três secretárias que trabalham na sala de espera, a impressão era de qualquer um tem acesso irrestrito à sala. “Quero os artistas participando e que venham até aqui. Farei uma gestão facilitadora para eles”, afirmou o secretário, ao justificar a queda das barreiras físicas da secretaria, para ele, muito mais “simbólica”.Ivanor teve seu nome confirmado para o cargo em 28 de janeiro. Com a posse já no dia seguinte, ele substituiu a professora da UFG Glacy Antunes, que ocupava o cargo desde o início de 2013. Ela havia sido indicada pelo ex-reitor da universidade Edward Madureira, que em setembro filiou-se ao PT, partido do prefeito Paulo Garcia. Apartidária, Glacy tinha perfil técnico, ao contrário de Ivanor, que sempre fez parte da direção do Goiás de PT. Segundo ele, a confirmação de sua indicação ao cargo foi uma festa, principalmente entre correligionários. “Embora eu mesmo tenha me surpreendido, muita gente esperava.”Artista plástico e escritor, natural de Morrinhos mas radicado em Goiânia desde 1970, o secretário que está há 40 dias no cargo afirma sonhar com a posição há 20 anos. A primeira vez que a possibilidade lhe passou pela cabeça foi ainda durante o primeiro mandato do PT à frente da Prefeitura de Goiânia, com Darci Accorsi (1993-1997). Adepto de redes sociais, antes mesmo de ter seu nome confirmado oficialmente, Ivanor comemorou virtualmente com conhecidos a realização do sonho. Mas garante que não pleiteou o cargo. Ao POPULAR, ele afirmou que o trabalho à frente da pasta está sendo “mamão com açúcar”. Na conversa, também deixou claro que pretende mudar a maneira de a secretaria funcionar, antes, segundo ele, focada em eventos e com um olhar voltado para fora do Estado. Também afirmou que sua equipe está praticamente formatada, com mudanças possíveis somente na direção do Centro de Cultura Goiânia Ouro e do Museu de Arte de Goiânia (MAG).

Nestes primeiros 40 dias de trabalho, qual sua avaliação do quadro da secretaria?
Eu percebi que a chegada do velho Ivanor abriu uma série de reações de alegria no rosto das pessoas. A gente tem recebido aqui de 30 a 60 pessoas por dia. Os artistas querem ajudar e ser partícipes. A secretaria agora volta a atender às demandas dos artistas, com lançamento de livros, pequenos saraus, peças de teatro, dança, tudo, para que eles se apropriem dela. Acho que tem muita coisa para ser feita, mas ainda estou enchendo esse balão de ensaio, para que ele exploda em abril para muitas coisas boas.

O senhor já está com a equipe completa?
Já terminei de fechar a equipe, só tem uns pequenos ajustes. Escolhi meus colaboradores pensando em resultados, porque sou homem de resultados. O prefeito me tirou da Secretaria (Extraordinária) de Assuntos Sociais e Comunitários, onde fazia um trabalho bacana, e me pôs aqui para que fôssemos facilitadores, para que o artista chegue aqui e fique tranquilo para fazer projetos aprovados. Já montei o Conselho Municipal de Cultura e hoje fecho também a Comissão de Projetos Culturais (CPC). A minha equipe teve como quesitos competência e agilidade.

O senhor já consegue visualizar qual será a marca de sua gestão? Eventos, fomento?
A secretaria será mais voltada para nosso umbigo. Precisa atender Goiânia. Não vejo necessidade de a secretaria buscar pérolas lá fora se temos aqui dentro. Claro que temos de fazer intercâmbio e conhecer outras linguagens, mas acredito que a secretaria tem muito mais de enviar os artistas goianos maravilhosos para fora do que trazer. Não vamos, claro, fechar as portas, mas é uma valorização absoluta dos artistas da cidade.

O senhor planeja dar continuidade a alguma linha de trabalho iniciada pela professora Glacy Antunes?
O que tiver de bom vou tentar ver. Estou ouvindo e escutando. É claro que cada um tem um olhar. Ela tinha um e tenho outro. Estou em Goiânia desde 1970, vi artistas crescerem e morrerem sem ser valorizados. Então quero olhar para o povo de Goiânia, de maneira diferenciada, talvez de outra maneira da que outros secretários que me antecederam.

O senhor almejava ser secretário municipal de Cultura desde a primeira administração do PT, na década de 1990. O senhor chegou a pleitear o cargo ao prefeito Paulo Garcia?
Não. Como sou artista plástico e escritor, sempre o pessoal questionava se tinha vontade de ser secretário de Cultura. Além de tudo, sou pessoa orgânica da direção do PT. É claro que aqui na secretaria eu sou do PC, o Partido da Cultura. Com o convite do prefeito, até fiquei surpreendido, estava em outra secretaria, acredito que fazendo um bom trabalho. Um dia, quando estávamos (ele e o prefeito) em uma frente de serviço, na região do Itatiaia, entramos em uma igreja e ele me abraçou e disse “Ivanor, você será meu secretário de Cultura”. As pernas bambearam de tanta alegria.

Isso foi quando?
Um dia antes de ele anunciar o novo secretariado. Fiquei muito feliz, mas nunca cheguei a pedir ao Darci Accorsi, ao Pedro Wilson ou ao próprio Paulo. Não sou de colocar a faca na jugular. Um dia eu só disse: “Se sonho valer, o meu é ser secretário de Cultura.”
Quando há troca de secretariado nunca há unanimidade. Houve quem criticasse a escolha de seu nome, por ter sido questão de partido.
Na verdade, só vi essa crítica no jornal. No dia em que o Paulo, lá no anúncio dos 18 secretários, falou meu nome, teve de parar porque mais de mil pessoas levantaram das cadeiras e começaram a gritar meu nome e bater palma. Teve foguete, embora nem eu nem o prefeito gostemos. Foram 10 minutos, a ponto do prefeito ter de pedir para parar. Eu já tinha uma luta muito grande pelos artistas. O Paulo já tinha recebido muitas vezes grupos de artistas que foram lá pedir meu nome. Acho que tinha mesmo aquela expectativa da classe artística de eu ser secretário. De verdade, parece que a classe está muito feliz. Não vejo nenhuma manifestação contra até agora.

Como o senhor define seu perfil: político ou técnico?
Mais técnico. Até porque preciso ser mais técnico, na hora que estou preparando uma exposição, escrevendo um livro, uma peça de teatro. Agradeço muito a Deus de ter esse lado técnico.

E como gestor?
Técnico também. Tanto que cheguei há pouco e já temos resultados surpreendentes. Estive sábado em Brasília, conversando com uma empresa de tecnologia para aproveitar o projeto da Casa de Vidro (centro cultural a ser construído no Jardim Goiás) e que estamos quase perdendo (os recursos foram garantidos há mais de cinco anos por emenda parlamentar da deputada federal Iris de Araújo). Se o projeto não for encaminhado o dinheiro terá de ser devolvido até mês que vem. O prefeito me deu essa incumbência, junto com o seu chefe de gabinete, Iram Saraiva Júnior. Aqui na secretaria as minhas ações serão de poucos eventos e muito enraizada para essa meninada vindo da universidade, ensino médio e escolas públicas municipais. Quero vídeo caseiro, festival de poesia encenada. Quero conversar com os produtores culturais, com o empresário de Goiânia, para que invista no Fundo (Municipal de Cultura). Dignidade para o artista é dinheiro no bolso. Não quero artista com pires na mão aqui na minha porta.

A Prefeitura de Goiânia passa neste momento por uma crise financeira. Essa crise está na pasta da Cultura?
É determinação que a gente baixe conta de água, luz e telefone, carros. Acho isso muito positivo para qualquer gestão.

Mas e a receita que é destinada à secretaria por vinculação legal orçamentária, de um 1,5% da arrecadação municipal para o Fundo Municipal de Cultura continua garantida?
Sim. Isso foi conversado assim que vim para cá. Até porque é muito pouco dinheiro.

Uma das pendências da Secult do ano passado para este ano, que não se resolveu, é a realização do Festcine, que poderia ser feito em ações fracionadas. Como o senhor resolverá?
Não cheguei a discutir isso ainda, mas já deixei claro a todos os produtores culturais que já estiveram aqui que qualquer dessas ações que existiam na Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria de Cultura, serão feitas com um olhar mais para a cidade. Não posso gastar o dinheiro da capital para cultura se ela (a ação cultural) não tem um enraizamento municipal. Não posso gastar R$ 1,5 milhão em um evento de cinema que não deixará um rescaldo daqui a dois ou três anos. Evento para mim passa. Fico triste quando gestores gastam milhões em eventos para uma noite só. Qualquer evento vamos fazer via Lei Rouanet e buscar aqui o secretário (estadual) de Cultura, Gilvane (Felipe). Preciso desse dinheiro do Fundo do Estado para ajudar. Já liguei na secretaria convidando o Gilvane para minha posse e também quero ir lá conversar com ele. Parceria tem de haver independente de partido político.

O Goiânia Canto de Ouro será mantido ou desfeito também?
Prefiro manter o Canto de Ouro, só que não mais como “Canto de Ouro”. Quero um projeto “Goianiarte”, que seja mais abrangente, para artes visuais, dança, cinema, teatro e música. Uma mistureba alegre e bonita. Vamos usar leis estaduais e federais para captar dinheiro.

Acabaria com o Goiânia em Cena, também, então? Seria algo como a antiga Revirada Cultural, criticada por ser pouco transparente?
Não. É diferente. O Goiânia em Cena, do qual participei da concepção no passado, foi importante porque Goiânia não tinha grupos de teatro. Tínhamos de trazer grupos de fora. Aquilo foi bacana porque fez surgir muitos grupos aqui. Mas o Goiânia em Cena não precisa de tantos grupos de fora. Até a Marci (Dornelas, diretora de eventos e ação cultural) brigou dizendo que precisava de mais grupos, mas eu disse para cortar. Vamos continuar a fazer o Goiânia em Cena – um caso à parte –, mas com gente daqui, com um ou dois grupo de fora no máximo.

Outro projeto marca da Secult é o Goiânia Prosa e Verso. Ele também chegou a ser criticado por falta de curadoria. O senhor manterá?
Sempre me encantou a ideia de ver 200 livros lançados. Para mim, se aproveitasse 10% já seria um ganho grande. Mas em conversa com o prefeito, ele pediu que fosse como a professora Glacy já planejava e que é meu critério também: com curadoria. Sem curadoria não tem controle de qualidade.

O Centro Goiânia Ouro será reformado e vai mudar de programação?
Hoje estou com técnicos lá levantando o que o precisa ser mudado fisicamente. Acho inadmissível não ter acesso para deficientes. A primeira coisa é resolver isso. E depois dar um grau de excelência lá. Quero ampliar a programação na área de cinema. Na área de teatro, está respondendo. Preciso voltar com os computadores, com as oficinas de teatro, de literatura. Chamei o Kaio Bruno (Dias, produtor cultural e escritor) para fazer parte da minha equipe para que a gente ocupe os becos de Goiânia com artes. Para que as pessoas que estiverem pela cidade sofrendo para pegar o ônibus possam ter grafite, dança de hip hop, etc.

Para o Museu de Arte de Goiânia, o que o senhor planeja? O local ainda sofre com condições precárias de condicionamento das obras da reserva técnica e com segurança.
Na parte interna, precisamos mexer. Já tenho a garantia de que a partir de segunda-feira (amanhã) terei um reforço na segurança. Hoje já tenho a ronda ali todos os dias.

Em relação ao prédio do Grande Hotel, agora é da prefeitura, o que o senhor pensa para aquele espaço?
Neste curto espaço de tempo, já fui a Brasília e consegui acabar com o imbróglio do prédio do Grande Hotel, que já vem para a Prefeitura de Goiânia com escritura. A aquisição em definitivo é um dos passos mais importantes. Ali será multiuso, de formação e difusão. Quero voltar o chorinho, mas para a Rua 8. No fundo (do prédio), quero pôr uma tenda para espetáculos nossos, do Centro Livres de Artes, de teatro, escolas, bibliotecas. Lá também vai abrigar o Instituto do Patrimônio Histórico, cujo acervo está sendo digitalizado. Tem muito a ser feito.

O INSS já saiu de lá?
Ainda não. Não tem data, porque ainda estamos estudando. Uma semana depois que entrei na secretaria, nós seríamos despejados de lá. Já estava transitado em julgado o despejo da Prefeitura. O INSS assumiria tudo. Descobrimos que o INSS tinha uma dívida com a Prefeitura de R$ 7 milhões e isso foi revertido juridicamente. Em seis meses, ainda neste ano, eles devem nos entregar o outro pedaço. Não sei se o povo acredita muito – deve ser coisa de Deus – no fato de eu chegar na secretaria e em uma semana ir para Brasília e conseguir esse resultado.

Quanto servidores trabalham hoje na Secult?
Ao todo tenho 680 servidores. Eu fiz o levantamento quando cheguei. Neste número estão incluídos o pessoal da banda (Marcial) – também os meninos que a gente paga para estudar lá – e da Orquestra Sinfônica de Goiânia, que tem cerca de uma centena de músicos. Aqui na sede somos poucos. Temos mais nas bandas, bibliotecas, MAG.

Administrativamente, a Secult sempre foi uma caixa-preta. Tem um organograma confuso e é financeiramente pouco transparente. O senhor fará reforma administrativa e política?
É uma possibilidade remota. Conheço a fundo essa secretaria e sei que é enxuta. Tenho o controle absoluto da máquina. O que tiver de excesso, vou cortar. Tudo vai estar, a partir de meados de abril, no Portal da Transparência. Todo mundo vai saber dos gastos que vamos fazer aqui, todos por meio de editais. Esse é meu projeto de vida: transparência. Preciso devolver o dinheiro público ao público com qualidade. Por isso, a gente está buscando mudar essa coisa de gastos com artista de fora.
“Evento para mim passa. Fico triste quando gestores gastam milhões em eventos para uma noite só”







Ivanor Florêncio: Secretario Municipal de Cultura


Ivanor Florêncio Mendonça, filho de Durval Florêncio Mendonça e Maria Eterna de Jesus, nasceu em Morrinhos (GO). Artista plástico e escritor, foi diretor de Cultura da Secretaria de Cultura de Goiânia, na gestão do ex-prefeito Pedro Wilson( 2001-2004). primeiro romance de Ivanor após uma trilogia de contos, crônicas e poesias. São obras do artista: A Vida é Vida Apesar das Pérolas (2004); Um Grito no Silêncio (2008); Enigmas da Mente - Homem versus Homem (2011) e   “O Troco (2013)
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retomata do Grande Hotel

Pois é, amigas e amigos do FACE, estou muito contente com os comentários positivos sobre a retomata do Grande Hotel, então faço agora, meio que atrasado um agredecimento grandioso ao nosso amigo Olavo Noleto e a Presidencia da República, que se desdobraram em mil para ajudar a resolver o problema. Agora é buscar mais conquistas pra nossa cultura